segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Foto Memória da Igreja Católica, no Amapá: Irmã Maria Celeste – A Primeira Freira do Amapá

Texto de Nilson Montoril (*)
“Quando exerceu o cargo de vigário da paróquia de Macapá, entre 1913 a 1922, Padre Júlio Maria Lombaerd decidiu criar uma escola onde as meninas receberiam instrução educacional e religiosa. Surgiu, porém um sério problema, haja vista que nenhum instituto que ele consultou dispunha de irmãs que pudessem ser deslocadas para Macapá a fim de dirigir o estabelecimento de ensino. Padre Júlio não pretendia criar um novo convento, mas convenceu-se que somente o fazendo conseguiria fundar a escola para meninas de Macapá. Recorreu ao Bispo Diocesano de Belém e dele obteve a permissão para fazer uma experiência. Como ele sempre ia fazer pregações em conventos de Belém, expôs às freiras e moças que com elas conviviam seu propósito de criar uma congregação com o nome de “Filhas do Coração Imaculado de Maria”. Várias moças externaram o desejo de serem religiosas, mas todas eram pobres e não tinham dinheiro para preparar o enxoval. Mesmo assim, Padre Júlio aceitou o desafio de leva-las para Macapá. Contando com a ajuda de pessoas caridosas ele obteve o mínimo necessário para instalar a escola e o noviciado." 
"Em uma casa (foto acima) de apenas dois cômodos foram instaladas as três primeiras religiosas. Após um breve período de preparação elas receberam o hábito de noviças a 8 de dezembro de 1916. Em um cômodo da casa funcionava a escola e o outro abrigava refeitório, dormitório, capela e sala de trabalho. No início do ano de 1917, a escola passou a funcionar com uma clientela de 60 meninas. Além das aulas, as meninas aprendiam a costurar, a lavar, a passar, e a cozinhar. Dentre as alunas havia mais de 20 órfãs com idade entre 13 a 15 anos. Essas moças viviam na condição de agregadas de parentes ou vinculadas às famílias caridosas, sem receber educação escolar. Nessa faixa de idade eram presas fáceis dos homens sem escrúpulos da cidade de Macapá. As Filhas do Coração Imaculado de Maria ganharam o respeito e admiração das pessoas de bem. Eram vistas como exemplo de dedicação à causa do catolicismo e do amor ao próximo.
Uma das noviças, chamada Raimunda Siqueira Coutinho, filha do casal João Coutinho e Ana Siqueira Coutinho, nasceu em Macapá no dia 28 de abril de 1905. Ingressou na “Casa Matriz Noviciado da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria” em 1920, quando tinha 15 anos de idade. Como noviça, a jovem adotou o nome de Irmã Celeste, a quem o Padre Júlio Maria Lombaerd chamava de “Anjo da Eucaristia”, porque ela comungava diariamente.
 No dia 3 de abril de 1922, doente e precisando de cuidados médicos só disponíveis em Belém, Irmã Celeste foi embarcada no navio “São Pedro”, contando com o acompanhamento do Padre Júlio. No dia 7 de abril ela faleceu a bordo da embarcação, sendo sepultada no cemitério de uma pequena comunidade existente em uma ilhota do arquipélago do Marajó, no Rio Pará (canal sul do Rio Amazonas) próximo a Belém. Padre Júlio prosseguiu viagem, pois precisava de tratamento contra uma terrível ferida que tinha na perna direita e que apresentava sinais de gangrena. Ao consultar o médico Remígio Fernandes, o vigário de Macapá foi informado de que, se a lesão não recrudescesse fatalmente sua perna seria amputada.
Padre Júlio retornou a Macapá e passou a rogar pela interveniência de Irmã Celeste junto a Maria Santíssima. Milagrosamente a ferida cicatrizou. Em 1927, os restos mortais de Irmã Celeste foram exumados e levados para Macapá. Diariamente a ossada era colocada sobre um encerado, sob o sol escaldante, para ressecar os restos de tecidos e cartilagens ainda existentes. Meninas da escola fundada por Padre Júlio se revezavam no decorrer do dia movimentando varetas com panos atados nas extremidades para espantar as moscas varejeiras e impedir que elas botassem ovos nos despojos. Depois de raspados e fervidos em cal, os ossos foram acondicionados em uma urna de madeira e remetidos para a cidade de Caucaia, no Estado do Ceará, onde residiam religiosas da congregação fundada pelo Padre Júlio Lombaerd. Ainda hoje, os restos mortais da Santinha de Macapá repousam na Sala Histórica da Congregação a qual pertenceu. À Irmã Celeste são atribuídos muitos milagres, mas nunca foi iniciado o processo de beatificação ou santidade. Antes de ir residir em Manhumirim, Minas Gerais, Padre Júlio Maria Lombaerd, que alterou esse sobrenome para “de Lombarde” depois de sua naturalização como brasileiro, passou por Pinheiro (Icoaraci/Pará) e Rio de Janeiro. Familiares da Irmã Celeste ainda vivem em Macapá.”
(*) Nilson Montoril – Pesquisador amapaense, historiador, professor, radialista, Administrador de Empresas e Presidente da Academia Amapaense de Letras.
Texto publicado originalmente no blog “Arambaé”, em 17 de abril de 2013, sob o título “A Santinha de Macapá”.
As atualizações e adaptações para o "Porta-Retrato", foram realizadas pelo editor do blog, com a devida anuência do autor do texto.
Fonte: Folhetim "Vidas Sagradas"  (Diocese de Macapá-2015)

6 comentários:

  1. É tão bom saber da história de uma pessoa que fez parte do passado de nossa família

    ResponderExcluir
  2. Irmã Celeste pertencéu a Congregação que hoje faço parte. Ela para nós é muito importante e tenho procurado familiares próximose de Irmã Celeste,e neste últimos dias encontrei uma sobrinha de primeiro grau, já nos encontramos e ela partilhou muitos fatos da família de Irmã Celeste, que para nós é desconhecido. Estamos trabalhando para reeditar o livro: Um Anjo da Eucaristia, pelo PE. Júlio Maria De Lombaerde, onde podemos ter um Bibliografia mais nova, contendo talvez dados novos sobre a Santinha de Macapá.

    ResponderExcluir
  3. Era.irma.da.minha. avó francis..
    Fiquei.sabendo.disso hoje por.meio.da.minha tia...

    Não conheci ela.

    Família Coutinho de.belem do Pará

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Família Coutinho de Macapá e Santana.

      Excluir
  4. Engraçado que uma outra irma celeste foi uma freira em 1600 e era filha de galileu galilei ..

    ResponderExcluir

MEMÓRIA DA CULTURA AMAPAENSE > DONA VENINA, GRANDE DAMA DO MARABAIXO DO AMAPÁ

Tia Venina marcou a história das mulheres da família e do Quilombo do Curiaú, situado na Zona Rural de Macapá. A sua trajetória é uma inspir...