quinta-feira, 18 de março de 2021

FATOS E MEMÓRIAS DO AMAPÁ: Manoel Cordeiro - Um gênio da música


                                                                 (Foto: Reprodução / Facebook)

Por (*)Humberto Moreira

“Realmente a população de Macapá ganhou, com o passar do tempo, muitas facilidades e avanços que deixaram a vida mais tranquila. Mas já fomos uma cidade onde não havia supermercados e atacadões. Foi no tempo dos pequenos comércios de gêneros alimentícios, comumente chamados de “tabernas”. Lembro de minha mãe me mandando diariamente a esses estabelecimentos para comprar arroz, farinha, açúcar e todo tipo de gêneros de primeira necessidade. Na época não se comprava em grandes quantidades e tínhamos de voltar diariamente às tabernas do bairro para comprar o que era necessário.

E foi nessas idas e vindas que conheci a Casa Novo Horizonte, que ficava na esquina da Hildemar Maia com a Mendonça Furtado, na chamada rua do aeroporto. Haviam alguns outros pequenos comércios que eram mais perto de casa. Porém uma coisa me atraiu ao local desde o primeiro dia. Naquela taberna havia um senhor e seu filho que tocavam e quando eu chegava lá acabava ficando um pouco mais para ouvir as músicas executadas pela dupla. Sentava em cima da sacaria e acabava atrasando o mandado da Dona Dulce.

O velho era Seu Mundinho. Um paraense de Ponta de Pedras e o garoto, filho dele, era nada mais nada menos que Manoel Cordeiro. Fui me aproximando devagar e fiz amizade com aquele garoto pois, eu já participava dos programas de música ao vivo na Rádio Difusora e vi ali a oportunidade de mais um parceiro.

Do outro lado da rua havia um bar chamado Casa Três Padroeiros, de propriedade de um enfermeiro chamado Francisco Monteverde. Lá aos domingos, se reunia a nata da música macapaense. Estavam por lá artistas como Francisco Lino, Manoel Sobral, Beni Santos, Geraldo do Pandeiro, Fernando da Cheirosa, Amilar, Vitaleiro, Treze e tantos outros.

Nas minhas idas e vindas à Casa Novo Horizonte fui ficando cada vez mais amigo do Manoel Cordeiro, chegando a ponto de convida-lo pra gente ir se meter no meio dos bambas que domingo frequentavam o bar da frente.

Tomamos coragem suficiente e atravessamos a rua num domingo. No repertório cantado pelos frequentadores da Casa Três Padroeiros, bolerões de Nelson Gonçalves e sambas de Ataulfo Alves muito aplaudidos na época.

Lá chegamos nós meio tímidos, Manoel com seu violão e eu querendo uma oportunidade pra soltar a voz. Não demorou muito para sermos chamados ao palco. A gente havia ensaiado um samba que tocava muito no Carnet Social da RDM chamado “Ilha do Marajó” de Zito Borborema. Tacamos Ficha. Dois moleques atrevidos em meio às feras musicais da cidade: ‘Recebi um telegrama do meu velho pai me pedindo pra voltar...”. A casa se derreteu em aplausos depois que terminamos. Saímos de lá felizes pelo resultado da nossa audaciosa aventura.

Anos depois, já adultos, integramos os grupos de bailes. Mas nunca estivemos num mesmo conjunto. Ele foi para Os Inimitáveis e Embalo Sete e eu para os Joviais e depois Cometas. Ele seguiu sua carreira fazendo sucesso com a Banda Warilou e eu continuei por aqui na vidinha de sempre.

Há mais ou menos um mês atrás aquele garoto, meu companheiro, hoje famoso maestro da música da Amazônia e conhecido no Brasil inteiro, foi infectado pelo Corona Vírus. Fiquei com o coração apertado, pois essa doença arrancou de mim algumas pessoas queridas. Gente da música também, como Fábio Mont’alverne e Siney Saboia. Não sou de rezar toda hora, mas fiz uma oração pedindo pela cura do meu amigo. Nossos laços, apesar da distância, não se desfizeram nunca e eu ficaria ainda mais triste se ele partisse.

Graças a Deus Manoel Cordeiro está se recuperando e eu o vi na semana passada no programa da Ana Maria Braga, acompanhando a Fafá de Belém. E fiquei feliz sentindo um alívio de ver que esse gênio da música ainda vai continuar conosco. Saúde irmão. Você não pode nos deixar agora porque se for, levará consigo muito da nossa alegria.

(*) Radialista, jornalista e cantor amapaense

(Fonte: Facebook)

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“Trajetória - Manoel Cordeiro começou a tocar aos 12 anos. O avô era maestro no Ceará. A mãe, cabocla marajoara, tocava cavaquinho. Curioso e autodidata, o então jovem músico ingressou em bandas de baile na primeira metade dos anos 1970. De 1976 a 1986, deixou o talento de lado e foi funcionário do Banco do Brasil, onde chegou a ser supervisor de operação. Mas, em 1983, voltou aos estúdios, desta vez para tocar ao lado do irmão. Nessa época, Manoel recebeu de Alípio Martins uma proposta irrecusável: montar uma banda base que acompanhasse vários artistas.

E assim ele contabiliza, por alto, mais de 700 participações em discos. Na década de 1980, trabalhou na criação do estúdio Gravasom, de Carlos Santos, que tinha selo, rádio e loja de discos. Quem emplacasse no Pará, tinha distribuição nacional pela Polygram. Em 1987, Manoel Cordeiro foi contratado como músico e arranjador de Beto Barbosa e, logo depois, começou a produzir o artista, que chegou a vender 1,5 milhão de cópias por álbum, um sucesso estrondoso que acabou atraindo quem não era do ramo.” Agência PA (SECOM)

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