Resgate Histórico
Sobrenomes semelhantes aos de uma
poetisa goiana de renome nacional, Cora Coralina, identificada como Anna Lins
dos Guimarães Peixoto, despertaram a atenção dos pesquisadores Michel Duarte
Ferraz (museólogo) e Marcelo Jaques de Oliveira (historiador), do Tribunal de
Justiça do Amapá (TJAP), que atualmente realizam a análise documental de
processos judiciais antigos com objetivo de resgatar registros de valor
histórico para justiça amapaense, desde o período do Brasil Império (de 1822 a
1889).
Os investigadores criaram uma tabela
que continha, ano após ano, os nomes dos magistrados, servidores e outros
colaboradores da justiça que foram identificados durante suas leituras. A
pesquisa virtual realizada na seção de hemeroteca da Biblioteca Nacional
revelou o nome do dr. Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, que
desempenhou o cargo de juiz de direito da Comarca de Macapá em 1868. Ao examinar
a biografia de Cora Coralina, verificou-se que ela era descendente do
magistrado.
Fonte: Almanach Administrativo, Mercantil, Industrial e Noticioso da Provincia do Pará para o anno de 1869, p. 389-391.
Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto nasceu em Areias, Paraíba, no ano de 1821. Dada a proximidade com sua terra natal, tudo indica que se formou em Direito pela antiga Faculdade de Direito de Olinda, localizada no mosteiro de São Bento. Sua trajetória profissional inclui a atuação como Chefe de Polícia nas províncias do Amazonas e Piauí. Exerceu a magistratura nas comarcas que fazem parte do Tribunal de Relações do Pará, como Macapá, Manaus e o Termo Judiciário de Cametá. Exerceu a função de Auditor de Guerra da Província do Amazonas. Em 1884, torna-se desembargador do Tribunal de Relações de Goyaz, tendo trabalhado como Desembargador Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional. Em 1889, com 68 anos, faleceu na Vila Boa de Goyaz, hoje cidade de Goiás.
Perfil e personalidade
Até o presente momento, não é
possível estabelecer de forma precisa um perfil da sua atuação profissional ou
da sua personalidade. Os jornais demonstraram isso claramente.
Eram parciais e distribuíam notícias
e versões de interesse dos seus proprietários e dos partidos políticos aos
quais estavam ligados. Alguns periódicos das províncias em que atuou
tratavam-no como um magistrado exemplar, enquanto outros o acusavam de cometer
abusos de autoridade, de conceder favores indevidos aos seus aliados ou de ser
um juiz "venal".
É notório que sua trajetória
profissional foi marcada por diversas controvérsias, o que pode ter causado
mudanças de funções ou até mesmo a transferência de comarcas.
Características de sua atuação
O dr. Peixoto esteve em Macapá entre 1868 e 1870 e, sem dúvida, contribuiu para a jurisdicionalidade e a consolidação da comarca.
Foram identificados diversos processos judiciais
assinados por ele. Além de magistrado, exercia a função de Delegado de Ensino.
Cabe ressaltar que, em Macapá, o dr. Peixoto estava envolvido nas questões
políticas criadas e ampliadas pelos aliados dos partidos Conservador e Liberal.
Um desses eventos foi noticiado pelo jornal O Liberal do Pará no dia 17 de
janeiro de 1869.
O jornal noticiava que o magistrado estava em viagem para Belém com o objetivo de se defender das acusações que lhe eram imputadas. O evento ocorreu no ano anterior e oferecia risco à vida do Capitão Fernando Álvares da Costa.
O Liberal do Pará, Anno I, Número 7, Belém do Pará, 17 jan. 1869, p. 1.
Conta o relator anônimo do caso: O Dr. Peixoto, com um punhal em uma bengala, provocou o nosso amigo de uma forma inusitada e tentou feri-lo. após ter usado todos os meios para espancá-lo. Não tendo o dr. Peixoto procurado em lugar isolado e solitário, muito de propósito quis que a sua façanha fosse decantada por todos. Outros exemplos de questões políticas que envolvem o dr. Peixoto podem ser encontrados em periódicos da antiga província do Piauy.
Transferência para Goiás
O dr. Peixoto estava entre os
magistrados mais antigos aptos a concorrer à vaga de desembargador no Tribunal
de Relações de Belém. Mas, em 15 de novembro de 1884, foi nomeado desembargador
do Tribunal de Relações de Goiás.
Em Vila Boa de Goiás (atual cidade de
Goiás), aos 66 anos, ele se casou com Jacintha Luiza do Couto Brandão e, dessa
união, nasceu Anna (Cora Coralina).
Relação pai x filha.
A poetisa não conviveu com seu pai, uma vez que ele faleceu dois meses depois dela nascer. No entanto, essa ausência parece ter deixado marcas profundas em sua vida.
Isso fica evidente na fotografia póstuma do dr. Peixoto colocada na parede da casa velha da ponte (antes residência da família e hoje museu Cora Coralina) e nos seus versos, como no poema "Meu pai".
- Meu Pai (In Memoriam)
Não coloquei nada em suas mãos. Nenhum beijo, nenhuma oração, nenhum suspiro triste. Eu era tão pequena... E fiquei uma criança minúscula na enorme ausência do meu pai que sentia falta.
Cora Coralina, inclusive, reformou o túmulo do pai,...
...adquiriu um espaço ao lado e construiu, no local, o seu próprio túmulo.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social
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