Texto: Nilson Montoril de Araújo
"O casarão do casal João de Azevedo Coutinho e Sofia Mendes Coutinho, edificado na esquina da Avenida General Maximiano Antunes Gurjão e a Rua São José era o prédio particular mais bonito da velha cidade de Macapá.
Seus proprietários integravam famílias
tradicionalíssimas e de elevado conceito. João de Azevedo Coutinho descendia do
clã liderado pelo Coronel Matheus de Azevedo Coutinho e dona Sofia provinha do
tronco familiar cuja figura maior era o Coronel Manuel Theodoro Mendes, cidadão
que comandou a guarnição da Fortaleza São José, foi um dos mais destacados
Intendentes do município paraense de Macapá e destacou-se como pecuarista na
região do Rio Macacoary.
"O casarão do casal João de Azevedo Coutinho e Sofia Mendes Coutinho, edificado na esquina da Avenida General Maximiano Antunes Gurjão e a Rua São José era o prédio particular mais bonito da velha cidade de Macapá.
O casarão foi demolido no final do
ano de 1970, desapropriado pelo governo do Território Federal do Amapá para
permitir a modernização urbanística do centro de Macapá. O terreno se estendia
desde a Rua São José até a antiga Rua dos Inocentes, atual Passagem Rio Branco,
que liga a Rua General Gurjão ao propalado Largo do Formigueiro. Era mais
comprido do que largo.
De frente para o velho Largo da Matriz, à margem da Rua São José, tinha à sua esquerda uma área anexa ao Senado da Câmara, que abrigou por pouco tempo a sede do Panair Esporte Clube, mas atualmente pertence à Telefônica OI.
O majestoso imóvel, edificado em taipa de pilão, possuía cômodos
amplos, um deles alugado à Prefeitura Municipal para acomodar a Escola Primária
da cidade de Macapá. Em meados da década de 1950, o citado ambiente passou a
abrigar a Secretaria do Colégio Amapaense, cujo prédio ainda estava em
construção. Esta ampla sala ficava à esquerda da entrada do casarão, tinha
instalações sanitárias e acesso para a Avenida General Gurjão. No lado direito
de quem ingressava na “Casa da Tia Sofia” ficavam os quartos, copa, cozinha,
dispensa para gêneros alimentícios, depósito para lenha e carvão, forno e
galinheiro.
De frente para o velho Largo da Matriz, à margem da Rua São José, tinha à sua esquerda uma área anexa ao Senado da Câmara, que abrigou por pouco tempo a sede do Panair Esporte Clube, mas atualmente pertence à Telefônica OI.
O vasto quintal tinha inúmeras
árvores frutíferas, plantas medicinais e decorativas, além de um poço com
sarilho. Lembro de um portão existente no cercado paralelo à Rua General
Gurjão, posicionado de frente para a casa dos meus pais. Era difícil acontecer,
mas as vezes Dona Sofia valia-se da passagem para ir em casa conversar com
minha mãe Olga Montoril de Araújo, quase sempre para fazer fuxico contra mim.
Ela costumava ficar sentada na sacada do seu quarto bisbilhotando tudo que
acontecia na área que hoje abriga o Teatro das Bacabeiras, onde havia um campo
de futebol.
Ali passávamos a tarde jogando bola, empinando papagaio e
disputando peteca. Quase todos os dias, por volta das 16 horas, Dona Sofia me
chamava, entregava um recipiente envolto em papel de embrulho e pedia para que
fosse até o comércio do Duca Serra (Emanuel Serra e Silva) buscar uma
encomenda. Em troca pelo recado eu recebia um cruzeiro. A recomendação era para
eu não desembrulhar o frasco. Seu Duca recebia o vasilhame, mandava que eu
esperasse do lado de fora da venda e depois me chamava. Durante anos eu tentei
saber qual era o segredo daquela compra. Somente há pouco tempo a Palmira
Mendes Coutinho, uma de suas filhas, revelou que era cachaça alvorada, usada
por Dona Sofia para preparar um delicioso licor de jenipapo. A cerca do terreno
era de hastes de acapu, madeira super-resistente, que ainda estava bem
conservada quando ocorreu a desapropriação da área.
Ao longo dela, pelo lado externo,
havia melões de São Caetano e muito gengibre. Meus vizinhos que participavam
das festas do Marabaixo colhiam à vontade para o preparo da gengibirra. Conheci
o casarão em detalhes, haja vista que, em inúmeras oportunidades fui convocado
para apanhar goiabas, mamões e cajus. Eu comia mais goiaba do que colocava na
sacola feita de saco de sal. Dona Sofia e Seu João Coutinho geraram três
excelentes criaturas: Raimunda Mendes Coutinho, a Professora Guita, José Mendes
Coutinho e Palmira Mendes Coutinho. Convivi com os três, todos amigos dos meus pais.
Dos seus familiares, apenas o neto Círio de Nazaré Menezes Coutinho recebeu da
avó a autorização para construir sua residência na nobre área, onde sua viúva
ainda mora. No restante do espaço há um prédio das Lojas Kennedy e da
Telefônica OI."
(Texto original do historiador Nilson Montoril, sob o título: Recordações
da minha infância – o casarão de Sofia Mendes, publicado em 06/08/2016, no
jornal “Diário do Amapá”)
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