sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

MEMÓRIA DO ESPORTE AMAPAENSE - COPÃO DA AMAZÔNIA – UM TEMPO DE GLÓRIAS

 Por Humberto Moreira

Decorria o ano de 1974 quando aqui surgiu a notícia que a então CBD estava planejando a realização de um torneio de futebol, envolvendo os ex-Territorios Federais da Amazônia. 

A nossa Federação era presidida pelo engenheiro Manoel Antônio Dias, que tinha dado uma alavancada no futebol local fazendo parceria com a imprensa e restabelecendo a confiança dos clubes na entidade.

No Rio as reuniões se sucediam na CBD sob o comando do Almirante Heleno Nunes. Entre os que defendiam a realização da competição estava um paraense, que morou em Macapá por muito tempo e por motivos de saúde havia se mudado para o Rio de Janeiro. 

Raimundo Osmar Pontes Holanda se tornou amigo do presidente da confederação e foi o maior defensor do oficialmente chamado de Torneio da Integração. Tanto que, depois, Holanda passou a ser chamado pela imprensa de “Pai do Copão”.

Passou-se quase um ano nas tratativas e finamente foi batido o martelo. Haveria o Copão e a primeira edição foi marcada para julho de 1975 em Porto Velho, capital de Rondônia. Poderiam participar os campeões das quatro unidades envolvidas. 

Pelo Amapá o representante seria o Esporte Clube Macapá, maior detentor de títulos locais da época e dono de um senhor time de futebol.

O Acre já era Estado, mas o futebol lá ainda era amador, como acontecia nos demais participantes. O representante acreano era o Juventus, uma potência comandada pelo craque Dadão, coadjuvado por Emilson e Carlinhos. O Baré jogaria por Roraima e o Ferroviário, denominado Tricolor da Madevia, por ser ligado à estrada de ferro Madeira-Mamoré, seria o anfitrião.

Imaginem uma delegação de 27 pessoas se deslocando de Macapá para Porto Velho, numa longa viagem no YS-11 da Cruzeiro do Sul, passando por Santarém, Manaus e por fim duas horas sobre a floresta amazônica até chegar à capital de Rondônia. Para nós era como se fosse a própria Copa do Mundo. Um grupo barulhento de jogadores, dirigentes e imprensa ficou hospedado no Hotel Vitória, centro da capital e se preparou para encarar a competição. Logo depois da chegada baixou sobre Porto Velho um fenômeno chamado friagem, que desce da cordilheira dos Andes e atinge locais como Porto Velho e Rio Branco, que estão próximos da fronteira com Perú e Colombia.

E foi num frio de 16 graus que o Macapá fez sua estreia diante do Ferroviário, o dono da casa. O azulino jogou uma partidaça e bateu o tricolor por quatro a um. Antes disso houve abertura da competição com a presença dos presidentes das Federações e com Raimundo Holanda representando a CBF. Eu havia trabalhado com ele em 1971 numa escapada de oito meses até o Rio de Janeiro e já o conhecia muito bem. Era um sujeito calmo e ponderado que não levantava a voz nunca e tratava a todos com delicadeza. Ele ficou alegre ao me rever. Holanda seria presidente da Confederação Brasileira de Basquetebol tempos depois.

Mas voltemos ao torneio. Depois da primeira rodada os rondonienses encasquetaram que deveriam colocar um segundo representante deles na competição. Convocaram uma reunião à noite e a gente foi pra lá. No grupo estavam Raimundo Anaice, Mair Bemerguy e Edésio Lobato pelo Macapá. Pedro Assis e Manoel Dias pela Federação Amapaense. Da imprensa Guilherme Jarbas, João Silva, Nilson Montoril e eu. Numa manobra muito bem montada o presidente Manoel Dias propôs que a entrada do Moto Clube deveria ser por unanimidade, dando a entender que votaria a favor. O resto dos dirigentes caiu na esparrela. Para a surpresa de todos o Duca (apelido dele) votou contra e jogou um balde de água gelada, como o vento daquela noite, nas pretensões do pessoal de Porto Velho. Mas a primeira rodada foi anulada e o Macapá teve que começar tudo de novo.

Aí foi a vez de encarar o Juventus. A imprensa acreana, composta pelo jornalista José Chalub Leite (Placar), Belmiro Xavier e Valdemir Canizo (Difusora Acreana) e Campos Pereira (Rede Amazônia) nos falava maravilhas do time juventino. E era realmente verdade. Dadão havia jogado no Fluminense e voltara para Rio Branco ainda exibindo um grande futebol. O centro avante Bira disse depois que “tomar a bola do Dadão só se bater nele com um pau”.

Mas o Macapá era o Macapá. Depois de várias escaramuças de ambos os lados o time do Acre começou a estudar mais as jogadas, pois percebeu que entrar na zaga comandada por Nariz e Albano não seria fácil. Mais atrás, no gol azulino estava Aluísio pegando até pensamento. De repente um contrataque, Marco Antonio chegou quase debaixo do gol e cabeceou no ângulo. GOOOOOLL DO MACAPÁ. E bastou só aquele. O azulino despachou o poderoso Juventus de volta pra casa. Me vi correndo dentro de campo para abraçar o goleiro do Leão da avenida FAB. Aluísio jogou uma partida impecável. Tanto que foi o jogador mais cumprimentado pelos adversários.

Veio o jogo contra o Baré de Roraima que não chegou a ser fácil como a gente esperava, mas o Leão ganhou de novo e desta vez por três a dois. O time vermelho de Boa Vista lutou muito, porém teve que se curvar ao melhor futebol do time comandado pelo Tenente Amaral.

Agora faltava encarar o Ferroviário novamente. Surgiu um impasse de última hora. Alguns jogadores do Macapá não queriam entrar em campo. Afinal na primeira partida do Torneio eles já haviam jogado e vencido o tricolor. Ao baterem os outros adversários já seriam campeões. Reúne, chama todo mundo para o debate. Eu estava no meu apartamento com o João Silva quando fomos chamados a opinar também. Disse ao grupo que realmente o time já era campeão, mas já pensou vencer os rondonienses pela segunda vez? Entrem em campo de novo e batam neles. Assim foi feito. A torcida do Ferrim passou a noite na frente do Hotel Vitória espocando foguetes, batendo tambores e fazendo barulho pra não deixar o time amapaense dormir. Não adiantou. O nosso representante deu um baile de bola e venceu com gols de Barrado, Carlos Roberto (Pé) e Aldo.

Eram 08hs da manhã do dia seguinte. No Mercado de Porto Velho um grupo fazia a maior festa em meio a muita cerveja, para o espanto dos que estavam ali fazendo compras. Eram os dirigentes, jogadores e a imprensa amapaense festejando aquela vitória épica. Porto Velho ainda nos veria em outras edições do Copão da Amazônia, mas nunca como naquela manhã, depois do Macapá conquistar o I Torneio da Integração.

Fonte: Facebook

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