O pioneiro Raimundo Cardoso
Rodrigues nasceu em 29 de janeiro de 1926, em Igarapé Açu/PA, filho de Teófila
Maria de Lima e José Rodrigues de Lima. Desde a infância ganhou o apelido de
“Badico”.
Sua profissão foi ourives, artesão que trabalha na fabricação,
limpeza e conserto de joias. Desde cedo ele começou a trabalhar na profissão,
tendo sido aprendiz de um garimpeiro e ourives, amigo da família, que veio do
Nordeste.
O primeiro casamento aconteceu aos
19 anos em Belém, quando saiu da pequena “Igarapé Açu” para tentar o mercado da
capital do Pará. Depois de alguns anos, se separou da primeira esposa, com quem
teve três filhos: Odaisa, Osmar e Carmen.
Nas idas e vindas para a região de
garimpo, voltou a “Igarapé Açu”, morando na casa de tios, entre eles Irineu de
Paula e Maria do Carmo Paula (dona Maroca), e aí surge uma linda história de
amor entre uma prima, de nome Maria de Lourdes Paula, mais conhecida como Lourdes.
Por serem primos legítimos, a família não apoiava a união deles. Depois de
muita insistência, e após a morte do tio Irineu, de complicações sérias de
saúde, e em razão deles estarem sempre se encontrando às escuras, a tia Maroca,
mãe de Lourdes, resolveu aceitar. Assim, Badico e Lourdes passaram a constituir
uma família.
Em 1953, chegaram ao Território do Amapá, fixando-se na região de garimpo, entre os municípios de Amapá e Calçoene. A primeira filha do casal a nascer foi Dinair, no município de Amapá, em janeiro de 1954. Após dois anos, resolvem fixar residência em Calçoene, e tentam legalizar o casamento, mas a Igreja Católica (assim como acontece até hoje) não permitiu. Em 1955 nasce seu segundo filho: Edgar. Em 1957 nasce o Mair, e dois anos depois, cansados de ganhar a vida (ele em consertos de joias e ela em corte e costura) no interior, resolvem ir para a capital, Macapá, a convite de um abastado comerciante, na época, chamado Abraão Peres, dono de um casarão que ficava situado na Rua São José entre as avenidas Presidente Vargas e Coriolano Jucá. Assim começou a terceira fase de suas vidas.
Neste endereço, que dividia entre residência e ourivesaria, ao
lado de um escritório de contabilidade do Sr. Wilson Carvalho, a família De
Paula Rodrigues começou, a partir de 1959. Montada a ourivesaria, por sinal bem
localizada na Praça Veiga Cabral, as crianças foram crescendo, matricularam-se
na Escola Paroquial São José, e assim dividiam a vida entre trabalho,
obrigações religiosas na Igreja Matriz de São José, onde até 1963 o padre
ficava de costas, e a missa era celebrada em latim.
De repente chegam o pai de Badico e sua mãe, do Pará, para morar com ele, e em seguida seu avô, Zacarias Rodrigues Teixeira, que estava só em Uruburetama, no Ceará, e com idade avançada, foi morar com o neto. Em 1964 eclode no Brasil o sangrento Golpe Militar, com perseguições aos opositores, e no Amapá não poderia ser diferente.
A região
entre a Praça Veiga Cabral e a Fortaleza de São José era sempre palco de
prisões de cidadãos, uns sendo confinados na antiga cadeia, na Av. Presidente
Vargas perto da ourivesaria do Sr. Badico,...
Imagem meramente ilustrativa |
...outros nos porões da Fortaleza de
São José, e outros declarados “inimigos contumazes da Revolução”, sendo
transferidos para Belém, para submeter-se a seções de torturas.
Um pouco preocupado com esse quadro todo, Badico é aconselhado, por um de seus primos, a passar uma temporada em Santarém; pegou toda a família e resolveu se mudar para uma casa próxima à Igreja de São Raimundo Nonato; mas dona Lourdes não se acostumou, e pediu peremptoriamente para voltar para a casa. Nesse tempo, um rapaz, aprendiz do Sr. Badico, de inteira confiança, chamado Manassés Viterbino (futuro pai do Eliezer Viterbino, proprietário da Benoliel), resolve ficar um pouco com o seu “patrão” em Santarém, e dona Lourdes volta à sua Macapá querida, com todos os seus filhos. Mas não demorou muito para que o “chefe da família” retornasse, com saudades de seu lindo amor. Assim retornam ele e Manassés.
Em 29
de novembro desse mesmo ano, após ser comemorado o aniversário da dona Lourdes,
todos foram dormir, e se acordaram na madrugada com toda a quadra da rua
pegando fogo.
Toda a família saiu com a roupa do corpo, e o que puderam salvar,
os saqueadores de plantão levaram.
Novamente a família De Paula Rodrigues
passou por grandes apertos, e o Rotary Clube, na época, sob a direção do Casal
Genésio e Líbia de Castro, resolveu fazer uma tarde dançante na então Piscina
Territorial, para conseguir verbas com fins a comprar todo o material de
ourivesaria do “seu Badico”. Assim a família, também amparada pela comunidade
de Macapá e pela Associação Comercial, tendo como líder o empresário Stephan
Houat, conseguiu se recuperar de mais dessa. Assim os anos foram passando, e os
filhos chegaram ao numero de 8: Dinair, Edgar, Mair, Pedro, Ray, Aldemir, Suely
e Claudemir.
Em 1974, cansada de tanto pagar aluguel, dona Lourdes, reúne os filhos para cada um colaborar na construção da casa. A filha mais velha, Dinair, consegue na Prefeitura de Macapá uma documentação provisória, comprando, a duras prestações, madeira e material de construção numa madeireira conhecida em Macapá. Apesar das dificuldades, a casa foi construída, cada um ficou com seu quarto, e o terreno documentado. E aos poucos, a vida ficou um pouco mais folgada. Em 1989 mais uma tragédia atingiu a família: a morte do caçulinha Claudemir Rodrigues, aos 21 anos, e muito querido por seus colegas policiais. Depois de sucessivos AVCs, e de um enfisema pulmonar provocado pelo vicio compulsivo do cigarro e pela utilização inadequada, desde os 18 anos, de ácidos corrosivos que eram utilizados na limpeza de joias sem máscaras e gorros, o chefe de família é declarado incapaz e os filhos assumem os destinos da casa. A morte do “seu Badico” ocorreu em 14 de fevereiro de 2000, por várias complicações, aliadas ao enfisema pulmonar e ao Mal de Alzheimer, chegando a ter vários AVCs (Derrames cerebrais). Dona Lourdes, que também padecia de dois AVCs e do enfisema, não aguentando a solidão provocada pela saudade do marido, veio a falecer dois meses depois, em 14 de abril.
Guerreiro, superprotetor dos filhos, e trabalhador incansável, “seu Badico”, diante dos limites que a vida lhe impunha, conseguiu criar toda a prole. A comunidade sempre o respeitou pela sua profissão, e pelos bons exemplos que dava à manutenção da família. No momento ele descansa, no “andar de cima”, juntamente com a “dona Lourdes”, mas seus exemplos permaneceram nos filhos, que hoje, a maioria, entrega também o comando à terceira geração. Dos oito filhos, dois já partiram também (Claudemir e Aldemir) e estão vivos: Dinair, Edgar, Mair, Pedro, Ray e Suely).
Portanto, essa é a Saga de seu “Badico”!
Me sinto sem palavras, por esta linda homenagem que o meu amigo João Lázaro fez à minha familia. Muito obrigado mesmo...Um dia vou contar a historia de meu pai em um livro....
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