MUITO ALÉM DE UMA BONITA VOZ.
Texto:
José Machado
O acaso fez
o ingresso no Rádio, de OSVALDINA FIGUEIRA BARROS, conhecida artisticamente
como “Dina Figueira”, levada pelo radialista Edvar Mota.
Meados dos
anos 60, quando ao ser atendido por aquela jovem vendedora, com um timbre de
voz característico em níveis harmônicos e padrão sônico atrativo, o veterano
locutor de apurada audibilidade, teve a certeza de que estava à frente de uma
grande promessa como locutora.
Convite aceito e aprovada no teste Osvaldina, integrou a equipe da ZYD-11 Rádio Equatorial, recém-inaugurada, hegemonicamente masculina. Se revezava ao microfone, com grandes profissionais da nova emissora, que foram alinhavando sua carreira. -
Com a intervenção
Federal, parte dos recursos humanos e do acervo técnico foram absorvidos e
incorporados à Rádio Difusora de Macapá.
Algum tempo depois, sentindo que Macapá estava pequena para os seus sonhos Dina, buscou outras plagas, onde pudesse expandir seu talento.
Sua melíflua
voz, passava uma sensação de tranquilidade e, ganhou destaque na radiodifusão
paraense, uma grande comunicadora, um misto de dicção perfeita (alternâncias
rítmicas das ênfases, clareza e expressividade).
Sabia usar a
entonação certa que o texto exigia: forte, suave ou emocional-tendências
estilísticas de uma boa locução que ampliaram as oportunidades e, passou a
gravar comerciais para rádio e TV.
Começou a
ser cobiçada por outras emissoras e, foi assim, que migrou para a RBA-Rede
Brasil Amazônia, atuando na Rádio e Televisão daquele Grupo de Comunicação.
Em junho de
1974, Dina contraiu matrimônio e deixou o rádio paraense, fixando residência em
São Paulo. Naquele mesmo ano, tentou ingresso nas Rádios: MULHER e AMÉRICA,
optando pela segunda, que lhe oferecia maiores vantagens salariais e em termos
de mobilidade – próxima de seu apartamento.
Com o tempo,
a impossibilidade de conciliar maternidade e trabalho, Dina optou então por um
afastamento, temporário, que se tornou definitivo, frustrando suas perspectivas
profissionais. Sua trajetória, apesar de intensa, foi encerrada prematuramente.
Apesar da
dificuldade de protagonismo Dina, foi uma figura proeminente que conseguiu, se
destacou e marcou época. Abriu caminho para que outras mulheres viessem
ingressar em um mercado predominantemente masculino, sob grande intimidação
social.
Àquelas que
ousavam pensar em trabalhar como locutoras, temiam as críticas maledicentes.
Embora não houvesse nenhum caso explicitamente declarado, sempre havia uma
insinuação de uma vida íntima mundana.
Histórias
como da Dina, eram casos rotineiros em um País, que tinha forte “localismo” -
apego a um conservadorismo demagogo de costumes sociais e culturais, opondo-se
a qualquer tipo de movimentos progressistas.
E, quanto
menor a cidade, maior os tabus e preconceitos, baseados em justificativas e
padrões sociais construídos sob a ótica, de uma suposta superioridade masculina.
Sua decisão,
causou em sua família num primeiro momento, reprovação que o tempo, se incumbiu
de provar que a preocupação era infundada.
Assim como
Edna Luz, que ingressara um pouco antes na Difusora - Dina, experimentou o
conflito do exercício da profissão, da crítica, às facetas do preconceito
associados a esse meio de comunicação.
Encarou com
denodo, todo tipo de tolhimento que as mulheres enfrentaram para alcançar seus
sonhos e, de romper com os padrões estigmatizantes.
Entre recuos
e avanços, Dina foi escrevendo a história de uma batalhadora, que se livra de
todas as amarras opressoras sozinha e, se faz como uma mulher vitoriosa.
Fez
carreira, história e dividiu as fainas diárias com seus colegas homens, sem
sofrer nenhum tipo de hostilização ou constrangimentos.
Dina, viveu
historicamente um período difícil profissionalmente e, precisou de ousadia para
adentrar espaços de exclusão feminina.
Osvaldina Figueira, está entre as maiores revelações do rádio no Norte do Brasil. Profissional eclética, destacou-se como (DJ), apresentadora de jornais falados e informativos
Transitou e
residiu em várias capitais, acompanhando o esposo que era bancário. Após esses
exílios voluntários, retornou à Belém onde fixou residência e, atualmente goza
de merecida aposentadoria.
A mesma
personalidade forte, extrovertida que demonstrava diante do microfone ao vivo,
também era vista por amigos e familiares.
O afeto e o
carinho com que tratava os colegas e ouvintes, a exaltação do amor pela vida,
não por acaso, explicava a paixão que ela sentia pela profissão.
OSVALDINA
FIGUEIRA BARROS (Dina), uma moça simples, humilde que lutou contra as
adversidades da vida, que se reinventou buscando conhecimento, à conquista de
seu espaço e, se fez importante para muitos.
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Nota do Editor:
Muito
oportuna e gratificante homenagem que o veterano companheiro José Machado faz à
Osvaldina Figueira Barros, uma colega radialista que tive o privilégio de conhecer
desde os primeiros dias nessa envolvente profissão.
Lembro,
claramente, de Dina Figueira como locutora e discotecária, na antiga ZYD-11 –
Rádio Equatorial de Macapá-(AM), a segunda emissora de amplitude modulada, que
existiu na capital amapaense, no início dos anos 60.
Após o fechamento
da emissora, que era clandestina, reencontrei essa brilhante profissional na
Rádio Difusora de Macapá., desempenhando as mesmas funções na discoteca e ao
microfone.
Com este meu
testemunho, venho corroborar de forma contundente e irrefutável, a importante contribuição
de Dina Figueira, ao Rádio amapaense, magnificamente homenageada por nosso confrade,
neste belo texto, que, com prazer, trazemos aos leitores do blog Porta-Retrato.
(João Lázaro)
Fotos: Reprodução (arquivo pesoal)
Parabéns pela divulgação da homenagem prestada a minha prima, sempre foi uma mulher de coragem, enfrentou a família para exercer uma profissão que naquela época era tão discriminada pela sociedade, mas ela foi valenteee...
ResponderExcluirGostaria de encontrar informações sobre o Capitão Euclides de Moraes. É possível?
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