MARIA FELÍCIA CARDOSO RAMOS, nasceu em 24 de fevereiro de 1928, filha de José Monteiro Cardoso e Izabel Macedo Cardoso. Os avós maternos dela, eram o português Marçal Rodrigues Macedo e Custódia do Nascimento Macedo. Dona Custódia, foi escrava; ela nasceu em 5 de abril de 1892. Tia Felícia nasceu no Igarapé do Lago e foi registrada em Macapá. O filho do proprietário da Dona Custódia, a “desfez moça” por isso o dono dela a alforriou e fez o filho se casar com ela. Eles moravam no engenho em Mazagão Velho, município do Amapá, de maioria afrodescendente, área de forte conservação da cultura de base africana, mas foram expulsos de lá, indo morar no Igarapé do Lago – distrito de Santana, segundo maior município do Estado do Amapá e território de maioria afrodescendente.
Tia Felícia morou no centro comercial
antigo de Macapá, onde hoje é a residência do governador. De lá os pais dela
foram morar no Laguinho, e Tia Felícia foi morar em Belém-PA, onde aprendeu a
costurar. Depois voltou para Macapá, casou-se com o Sr.José Libório Ramos, maquis
conhecido por Matapi – religioso de cultos afros da umbanda e espiritismo - um
dos 13 que fundaram a primeira escola de samba do Amapá, na esquina da Av. rua Mãe
Luzia com a Eliezer Levy, com quem teve 16 filhos;
Costurar era a profissão dela, o que fazia com muito amor; foi dessa forma que conseguiu
sustentar os filhos, principalmente depois que ficou viúva.
Tia Felícia tornou-se a costureira
mais famosa do bairro; costurou 48 anos para a Escola de Samba Boêmios do
Laguinho.
Ela começou a dançar Marabaixo depois
de viúva, na casa do Mestre Julião; também gostava do batuque do Igarapé do
Lago, já que sua descendência era de lá.
Tia Fé veio ao mundo quando Macapá. começava
a abrir os olhos, e os negros iniciavam as vidas na Favela e no Laguinho,
debaixo de todo o misticismo enraizado no sangue e na alma, como todos os
descendentes dos escravizados africanos que aportaram em Mazagão.
Bordou e costurou na mão, pedra por pedra, lantejoula e
brilho, as mais lindas roupas de destaques, rainhas da bateria e principalmente
mestres-salas e porta-bandeiras da Nação Negra, que reforçaram sua fama com as
inevitáveis notas 10. Quem frequentava a casa na General Osório, onde morou até
partir, lembra das roupas reluzentes e luxuosas feitas por Tia Fé, penduradas
em cabides, e de seu ritual pré-carnaval, de bordar a roupa no corpo dos
principais artistas do Laguinho.
Contam os amigos que o mestre-sala Amaral, danado por
natureza, era “guardado” por Tia Fé, na véspera do desfile para evitar qualquer
situação que colocasse em risco a apresentação. Só era liberado para chegar na
avenida Fab e dar o show que garantia a nota máxima no quesito. Tanto trabalho
para bordar cada detalhe não a impedia de sair em sua escola do coração, e
mesmo cansada, arrumava forças para rodar a saia na ala das baianas. Passado o
carnaval, lá vinha Tia Fé com as flores na cabeça, emoldurar o cenário colorido
das rodas de marabaixo, dançando até o fim, cantando os versos com os quais dona
Isabel embalava os moleques da casa. Pelas contas dos mais antigos, embaraçadas
na memória, a última porta-bandeira que teve a roupa bordada pela Tesoura de
Ouro foi a Nega, que rodopiava com Amaral levando a bandeira vermelha e branca
na cintura.
Mãe, marabaixeira, avó que criou os netos como filhos.
Maria Felícia Cardoso Ramos, primeira costureira da
Universidade de Samba Boêmios do Laguinho, nos deixou em 2014, aos 86 anos de
idade.
Fontes de pesquisa: Livros > Marabaixo,
dança afrodescendente: significando a identidade étnica do negro amapaense –
Piedade Lino Videira e texto de
Marileia Maciel publicado em 11 de março de 2014 no blog da Alcilene
Cavalcante, sob o título: “Tia
Fé, Tantam de Ouro faz seu última desfile no Laguinho”
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