Quando eclodiu a Revolução Militar de 1964, que tirou do cargo de
Presidente da República o Dr. João Belchior Marques Goulart, o Tenente do
Exército José
Alves Pessoa, residente em Macapá, não aprovou a ação de seus colegas de
farda e protestou ao ver cidadãos serem presos e excluídos do serviço público
de maneira sumária.
O ilustre militar também foi atingido por medidas coercitivas, a pior
delas o feriu profundamente em seu amor cívico pelo Brasil. Por incrível que
pareça, mesmo vivo, o Tenente Pessoa foi compulsoriamente passado para a
reserva e assim mantido como se estivesse morto. Uma série de acusações lhe foi
direcionada, entre elas a pecha de ser subversivo e indisciplinado.
Ora, o Tenente Pessoa presidiu o Tiro de Guerra nº 130 e o fez muito bem.
Evidenciou sua condição de disciplinador em todas as circunstâncias. Costumava
estimular seus subordinados propensos a fracassar nas aulas de instrução
militar, que o Exército é uma instituição para gente decidida, forte e
disciplinada. Dizia que “guerra é guerra” e não tem moleza. Ninguém em sã
consciência deve considerá-lo insensível, porque o velho “Engrena” era boa
praça. Depois de ser duramente punido pelo Exército, o Tenente Pessoa enfrentou
momentos muito difíceis. Até alguns indivíduos que se diziam amigos lhe viraram
as costas e o hostilizaram. Em 1972, ano do sesquicentenário da independência
do Brasil, o Tenente Pessoa decidiu empreender uma caminhada para demonstrar
publicamente o seu amor pela Pátria.
Chegada de Ten. Pessoa à Macapá, quando de sua caminhada do raid terrestre do Oiapoque ao Chuí. |
A jornada, que ele denominou “Raid
pedestre Oiapoque-Chuí” teve largada na margem direita do rio Oiapoque e
chegada à margem esquerda do Arroio Chuí, foi organizada com bastante alarde e
contou com o apoio de seus irmãos maçons, familiares, desportistas, escotistas
e amigos sinceros.
Os patronos da jornada foram: Almirante
Benjamim Sodré (destacado escotista do Pará), Marechal Juarez F.
Távora (grande amigo de farda), Marechal do Ar Eduardo
Gomes, General Ivanhoé Gonçalves Martins, governador do Território Federal
do Amapá, Dr. Laudo Natel,
governador do Estado de São Paulo, Dr. Euclides Triches,
governador do Rio Grande do Sul e Dr. João Havelange,
Presidente da Confederação Brasileira de Desportos. Patrocinaram o raid a
Região Escoteira do Amapá, representada pelo Chefe Clodoaldo Carvalho do
Nascimento e a Federação Amapaense de Desportos através de seu presidente
Wilson Pontes de Sena. À época em que residia no Rio Grande do Norte, sua terra
natal, José Alves Pessoa compôs com os amigos Humberto Lustosa da Câmara,
Aguinaldo Vasconcelos, Henrique B. Oliveira e Antônio G. da Silva, todos
integrantes do movimento escoteiro potiguar, um grupo cívico que realizou uma
caminhada entre Natal e São Paulo.
O propósito do grupo foi comemorar o Centenário da Independência do
Brasil. Conforme planejaram, dia 7 de setembro de 1922, eles estavam em São
Paulo, em frente ao monumento do Ipiranga.
No raid de 1972, ele quis relembrar
o feito anterior e novamente fez uso da farda dos discípulos de Baden Powell,
afinal de contas, no escotismo existe a máxima de que “uma vez escoteiro,
sempre escoteiro”.
No dia 1º de março o Tenente Pessoa deixou a cidade do Oiapoque com
destino a Macapá. Se atualmente a Rodovia BR 156 ainda interpõe muitos
obstáculos, imagine há 46 anos. O caminhante de então não era mais o vigoroso
jovem potiguar do circuito Natal-São Paulo. Em 1972, o Tenente Pessoa estava
com 69 anos de idade. Após cobrir o percurso Oiapoque-Macapá, com mais de 600
km, o bravo caminhante seguiu para Belém, onde iniciou a segunda etapa da
empreitada. Entre Belém e a Rodoviária do Rio de Janeiro, passando por Belo
Horizonte, ele caminhou 3.347 km. Passou a semana da Pátria em São Paulo.
Concluiu seu roteiro no dia 19 de novembro de 1972, no Arroio Chuí, onde
derramou água do rio Oiapoque levada em um frasco.
Fonte: Texto do historiador Nilson
Montoril, publicado, originalmente, na edição do dia 17/2/2018, do Jornal
Diário do Amapá, devidamente atualizado e adaptado ao blog Porta-Retrato, com a anuência do autor.
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