quarta-feira, 30 de outubro de 2024

MEMÓRIA CULTURAL DO AMAPÁ - COMUNIDADE QUILOMBOLA DE ILHA REDONDA

 A região de Ilha Redonda, tem cerca de 170 anos de história. Aproximadamente 90 famílias residem lá, sendo que 9% dos habitantes são descendentes.

A denominação Ilha Redonda é atribuída à formação de florestas de pântano e terra firme, além de campos de terra firme. As florestas de terra firme e inundadas seguem a forma circular das ribanceiras, vastas áreas de campos (serrado), formando uma espécie de ilha no seu centro.

Em meados do século XIX, a família de origem portuguesa Siqueira Picanço Lobo, acompanhada de seus escravos de sobrenome Tacacá, aportou em Mazagão. Em decorrência da epidemia, deixou Mazagão e se estabeleceu em uma região rural afastada da vila de São José de Macapá, conhecida como São Pedro de Ilha Redonda.

A família se expandiu e ocupou uma vasta área, que se estendia do rio Amazonas até o esparica km 17, de leste a oeste, desde a extremidade do Curiaú, que na época era uma fazenda, até as margens do rio Matapí, totalizando aproximadamente 40 mil hectares de terras.

Sua produção era baseada na criação de grandes e pequenos animais, na agricultura de roças de mandioca, café, tabaco, cana de açúcar e pomares de frutas.

A cultura religiosa incluía celebrações de criador ou santo, realizadas com doações provenientes das promessas feitas pelos devotos de cada santo. Os negros mantinham os batuques separados, sobretudo quando as colheitas eram bem-sucedidas.

Ao longo do tempo, a área precisou ser dividida, uma vez que os filhos estavam crescendo e formando famílias, exigindo a ocupação de toda a área. O mesmo ocorreu com os escravos.

A área foi dividida em seis: São Pedro da Ilha Redonda, Fortaleza ou Lagoa dos Índios. O coração da Ilha Redonda, atualmente Vila Coração. Nossa Senhora da Conceição, também chamada Lagoa de Fora. Retiro São Raimundo de Ilha Redonda, antiga propriedade onde tudo começou. São Sebastião de Ilha Redonda é a vila da comunidade atualmente. A Esparica da Ilha Redonda delimita o norte das terras.

A maior frustração dos patriarcas e matriarcas dessa família foi ver os netos e bisnetos formando famílias com os descendentes e bisnetos de seus escravos. Os mesmos, expulsos, foram residir na comunidade do Curralinho.

Ao longo dos anos, a população branca de origem portuguesa foi sendo substituída por uma população de pele mais escura, devido à mistura. A cultura predominante começou a introduzir o batuque nas primeiras noites de celebração. Com uma forte presença católica.

Em 1997, a comunidade de Ilha Redonda sofreu um grande impacto ambiental, com a implantação de um lixão a céu aberto, o que quase levou a comunidade à extinção. Foram nove anos de poluição causada por gases tóxicos, odor e moscas. Na vila da comunidade, havia apenas uma residência.

Hoje em dia, a comunidade de Ilha Redonda é reconhecida em todo o país como remanescente de Quilombo, após longas batalhas contra latifundiários que, por meio de métodos ilegais, tentaram expulsar os negros de suas terras.           

Fonte BLOG QUILOMBO DO AMAPÁ – (Com informações do senhor Benedito Sobrinho Lobo um dos bisnetos da senhora Fostina Siqueira Picanço).

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