Texto do historiador Nilson
Montoril, adaptado ao Porta-Retrato
“Há 58 anos – em 23 de setembro de 1957 – falecia em Macapá Francisca Luzia da Silva, a Mãe Luzia, aos 88 anos de idade.
Estava alquebrada e tinha os
cabelos brancos como um nicho de algodão. Sua morte deixou os moradores de
Macapá imersos em profunda tristeza.
O enterro ocorreu no Cemitério
Nossa Senhora da Conceição, a direita de quem ingressa naquele campo santo, junto
ao passeio que leva ao Cruzeiro e à capela.
A morte de Mãe Luzia encerrou o
ciclo das renomadas parteiras e mulheres de múltiplos conhecimentos com plantas
medicinais.
Mãe Luzia, se devotou aos
desvalidos, ministrando-lhes remédios caseiros, benzendo crianças, curando
espinhela caída, cobreiro, carne rasgada, erisipela e problemas da cabeça.
Nasceu com o divino dom de “aparar” crianças e nenhuma delas pereceu em suas
mãos.
Mesmo quando o médico obstetra e
cirurgião Cláudio Pastor Darcier Lobato veio para Macapá,em 1944, e passou a
chefiar a Unidade Mista de Saúde (que ocupava a área onde foi construída a
Biblioteca Pública), Mãe Luzia não foi relegada. Em várias oportunidades o
ilustre médico recorreu aos conhecimentos práticos da Mãe Preta da Cidade de
Macapá. O Mesmo fez o médico Moisés Salomão Levy, que era pediatra.
A primeira casa de Mãe Luzia era
localizada na esquina da Rua dos Inocentes (depois Coronel José Serafim Gomes
Coelho) com a Travessa Floriano Peixoto (depois Presidente Getúlio Vargas). Ela
deixou o imóvel sob a responsabilidade do filho Cláudio Lino e foi se
estabelecer no Largo dos Inocentes.
A segunda casa tinha estrutura em taipa de mão, com vários quartos que ela alugava para caixeiros viajantes e romeiros. Era um casarão de telhado alto situado na esquina da Avenida Mendonça Furtado com a Travessa Francisco Caldeira Castelo Branco (depois Coronel José Serafim Gomes Coelho e atualmente Tiradentes), com frente para o Largo dos Inocentes, também denominado Formigueiro.
Observe a casa localizada ao fundo
da passagem entre a velha sede do Senado da Câmara e a Igreja de São José. Ela
demorava à margem da Travessa Castelo
Branco, de frente para o Largo dos Inocentes e pertinho da casa da Mãe Luzia. A
foto é bem antiga, mostrando como era a Igreja.
O imóvel que ela ocupou até morrer
foi desapropriado em 1970, para o alargamento da Rua Tiradentes. Na parte do
terreno que não virou leito de rua foi erguido um prédio em alvenaria onde
funcionou o Cartório Jucá.
Mãe Luzia foi casada com Francisco Secundino da Silva, próspero lavrador e político macapaense que chegou a exercer o
cargo de Prefeito de Segurança (Delegado de Polícia) e obter a patente de
capitão da Guarda Nacional. O casal teve duas filhas e quatro filhos: Miquilina
Epifânia da Silva (Milica), Cláudio Lino dos Passos da Silva (pai do Francisco
Lino da Silva, o Lino da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho), Àguida
Chavier da Silva, Francisco Lino da Silva, Raimundo Lino da Silva (Bucú) e José
Lino da Silva.
Ela costumava lavar roupas sem usar
a parte superior de sua vestimenta e quem a via assim jamais lhe faltou com
respeito. O quintal de sua residência era paralelo a Rua Tiradentes e não tinha
cerca. Quando se debruçada sobre a gamela, esfregando as roupas, seus seios
flácidos se misturavam a elas.”
Post original publicado no blog
Arambaé – de Nilson Montoril
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