Por João Silva
Paulino Lino Ramos foi uma figura folclórica do Laguinho, bastante conhecido no bairro por suas tiradas inusitadas. Era neto do mestre Julião, “Rei Negro do Marabaixo”; morava na Eliezer Levy, bem na porta de entrada do bairro moreno da cidade; vivia ali como festeiro, guardião da história e das tradições do povo do Laguinho.
Entre seus melhores amigos, muita gente graúda – médicos, professores, advogados, comerciantes, políticos, e funcionários do primeiro escalão do Governo do Amapá! Turma boa que assinava ponto à tardinha na casa do dito cujo para um carteado no paga beijo que se estendia muita além da boca da noite.
Faz algum tempo que o Paulino subiu, mas ficaram os causos, as tiradas que correm de boca em boca, e continuam provocando muitas gargalhadas; o que restou da sua irreverência, jeito engraçado de ser e de falar, hoje enriquece o folclore da cidade em que veio ao mundo e a quem serviu como funcionário público, dono de bar, açougueiro ou fazedor de frete nas horas vagas, dirigindo aquela fubica que todo mundo via por aí.
Negro pobre, baixinho, descendente de escravos, estudou muito pouco; mal assinava o nome e, provavelmente, não leu um livro na sua vida! Trabalhou duro pra garantir o leite das crianças, quase sempre de camisa aberta, cigarrinho no canto da boca, uma cervejinha pra indagar dos mais esclarecidos – José Figueiredo de Souza, Ubiraci, Zequinha Picanço, Iacy Alcântara, Geraldo Magela - sobre política e futebol.
Impossível pensar no Paulino triste, cabisbaixo, mas tinha o pavio curto e podia explodir a qualquer momento; verdade se diga: a história do homem no serviço público foi uma piada...Só queria sombra e água fresca...Coisas do Território do Amapá, em que antiguidade era posto, esclarece Enildo Cuia Preta, especialista em Paulino Ramos que, por ser descendente do Mestre Julião, gozava de alguns privilégios, lembra laguinense histórico, Francisco Lino da Silva. O homem não era obrigado a cumprir dois expedientes, já que tinha licença para ir à repartição pela manhã para assinar o ponto de entrada e o ponto de saída.
Um dia a moleza acabou quando seu chefe mandou apertar todo mundo por ordem do governador de plantão; determinou ao Paulino que comparecesse também para assinar o ponto da tarde; foi aí que ele chiou, sibilante, vendo sua sesta ir pro espaço (sic):- Ih!Ih!ih!ih bem que me disseram...Ih,Ih,Ih já começou a perseguição!
Certa vez encasquetou com a vizinhança e botou placa de venda na casa em que morava. Conceituado empresário o procura e ele o recebe em sua residência; ocorre que possível comprador decide primeiro ouvir a proposta do dono do imóvel. O Paulino arrocha no preço e o cidadão acha alto, diz que o lote é pequeno, que a benfeitoria não compensa, apesar de bem localizada, no que retruca o neto de Julião:- Tudo bem, o lote é pequeno, a casa é pequena, mas ih,ih,ih,ih pra cima não conta, doutor?
Festa em louvor ao Divino Espírito Santo, casa do Pavão, divisa do Laguinho com Jesus de Nazaré, o velho “Puíco”, um dos apelidos do Paulino, abusa da gengibirra na roda do marabaixo! Horas depois sai da festa tentando dar partida na fubica que chamava de “Socorrinho do Laguinho”, e trisca num carro estacionado mais adiante... Proprietário do carro abalroado, não se contém, dirige um monte de impropérios ao Paulino, obtendo como resposta uma pergunta: - Onde tu moras, meu jovem? - No Trem! – disse o cidadão morto de curiosidade. - Então a culpa é tua... O que tu estais fazendo no Jesus de Nazaré?
E quando antigas dores nos ombros reaparecem e ele toma a decisão de pagar uma consulta? O médico o examina, prescreve a medicação e o Paulino pergunta ao doutor se aceita cheque de um amigo, justo no valor da consulta. O médico diz que sim; dias depois o médico vai ao banco e constata que o cheque está sem cobertura e o procura para expor o problema: - Paulino, lembra daquele cheque que você me deu, amigo? Queria lhe avisar que está sem fundo! - Eu queria lhe avisar também, doutor, que aquela dor no ombro continua! - Como ficamos então? – disse o médico. - Fácil, doutor, o senhor devolve o cheque e eu fico com a minha dor...
Paulino Lino Ramos foi uma figura folclórica do Laguinho, bastante conhecido no bairro por suas tiradas inusitadas. Era neto do mestre Julião, “Rei Negro do Marabaixo”; morava na Eliezer Levy, bem na porta de entrada do bairro moreno da cidade; vivia ali como festeiro, guardião da história e das tradições do povo do Laguinho.
Entre seus melhores amigos, muita gente graúda – médicos, professores, advogados, comerciantes, políticos, e funcionários do primeiro escalão do Governo do Amapá! Turma boa que assinava ponto à tardinha na casa do dito cujo para um carteado no paga beijo que se estendia muita além da boca da noite.
Faz algum tempo que o Paulino subiu, mas ficaram os causos, as tiradas que correm de boca em boca, e continuam provocando muitas gargalhadas; o que restou da sua irreverência, jeito engraçado de ser e de falar, hoje enriquece o folclore da cidade em que veio ao mundo e a quem serviu como funcionário público, dono de bar, açougueiro ou fazedor de frete nas horas vagas, dirigindo aquela fubica que todo mundo via por aí.
Negro pobre, baixinho, descendente de escravos, estudou muito pouco; mal assinava o nome e, provavelmente, não leu um livro na sua vida! Trabalhou duro pra garantir o leite das crianças, quase sempre de camisa aberta, cigarrinho no canto da boca, uma cervejinha pra indagar dos mais esclarecidos – José Figueiredo de Souza, Ubiraci, Zequinha Picanço, Iacy Alcântara, Geraldo Magela - sobre política e futebol.
Impossível pensar no Paulino triste, cabisbaixo, mas tinha o pavio curto e podia explodir a qualquer momento; verdade se diga: a história do homem no serviço público foi uma piada...Só queria sombra e água fresca...Coisas do Território do Amapá, em que antiguidade era posto, esclarece Enildo Cuia Preta, especialista em Paulino Ramos que, por ser descendente do Mestre Julião, gozava de alguns privilégios, lembra laguinense histórico, Francisco Lino da Silva. O homem não era obrigado a cumprir dois expedientes, já que tinha licença para ir à repartição pela manhã para assinar o ponto de entrada e o ponto de saída.
Um dia a moleza acabou quando seu chefe mandou apertar todo mundo por ordem do governador de plantão; determinou ao Paulino que comparecesse também para assinar o ponto da tarde; foi aí que ele chiou, sibilante, vendo sua sesta ir pro espaço (sic):- Ih!Ih!ih!ih bem que me disseram...Ih,Ih,Ih já começou a perseguição!
Certa vez encasquetou com a vizinhança e botou placa de venda na casa em que morava. Conceituado empresário o procura e ele o recebe em sua residência; ocorre que possível comprador decide primeiro ouvir a proposta do dono do imóvel. O Paulino arrocha no preço e o cidadão acha alto, diz que o lote é pequeno, que a benfeitoria não compensa, apesar de bem localizada, no que retruca o neto de Julião:- Tudo bem, o lote é pequeno, a casa é pequena, mas ih,ih,ih,ih pra cima não conta, doutor?
Festa em louvor ao Divino Espírito Santo, casa do Pavão, divisa do Laguinho com Jesus de Nazaré, o velho “Puíco”, um dos apelidos do Paulino, abusa da gengibirra na roda do marabaixo! Horas depois sai da festa tentando dar partida na fubica que chamava de “Socorrinho do Laguinho”, e trisca num carro estacionado mais adiante... Proprietário do carro abalroado, não se contém, dirige um monte de impropérios ao Paulino, obtendo como resposta uma pergunta: - Onde tu moras, meu jovem? - No Trem! – disse o cidadão morto de curiosidade. - Então a culpa é tua... O que tu estais fazendo no Jesus de Nazaré?
E quando antigas dores nos ombros reaparecem e ele toma a decisão de pagar uma consulta? O médico o examina, prescreve a medicação e o Paulino pergunta ao doutor se aceita cheque de um amigo, justo no valor da consulta. O médico diz que sim; dias depois o médico vai ao banco e constata que o cheque está sem cobertura e o procura para expor o problema: - Paulino, lembra daquele cheque que você me deu, amigo? Queria lhe avisar que está sem fundo! - Eu queria lhe avisar também, doutor, que aquela dor no ombro continua! - Como ficamos então? – disse o médico. - Fácil, doutor, o senhor devolve o cheque e eu fico com a minha dor...
Quando morreu,
em 92, a
nação negra chorou
de dor.
Texto do jornalista João Silva, adaptado para
o Blog Porta-Retrato, com a devida anuência do autor.
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