segunda-feira, 6 de abril de 2020

Memórias da Macapá de Outrora: Doces lembranças de Meu Vizinho Agrônomo

Fui privilegiado pelo destino por ter ido parar em uma cidade tranquila e pacata, em plena selva amazônica, à beira do Grande Rio. Falo da Macapá de outrora, dos idos dos anos 40/50 e 60 quando tudo deslumbrava um futuro promissor para o recém criado Território Federal do Amapá.
Aliás, a agricultura de subsistência era uma cultura dos antigos moradores do lugar.
E Janary Nunes – primeiro governador do novo Território – foi um dos maiores incentivadores dessa atividade impulsionadora da economia e da boa qualidade da vida de todos.
A história registra que em 1751, quando os colonos açorianos chegaram a Macapá, plantando de imediato suas roças, as chuvas foram implacáveis com eles. 
Imagem meramente ilustrativa
Os açorianos voltaram a plantar arroz, milho, feijão, urucum, mandioca e hortaliças a partir de junho de 1752.
Em 1949, quase seis anos após a criação do Território Federal do Amapá, o governador Janary Nunes distribuiu lotes de terras a 12 colonos nordestinos ao longo da estrada que liga a base aérea a Oiapoque. A partir de 1950, o governo territorial iniciou a elaboração de um projeto visando a criação de uma colônia agrícola entre as vilas de Porto Grande e Ferreira Gomes. Outra tentativa agropecuária foi realizada na região do rio Matapi, distante 120 km de Macapá. A Colônia Agrícola do Matapi começou a funcionar em fevereiro de 1949 e em março de 1950 registrava a presença de cinco colonos.
Quase todos os colonos vieram de sítios existentes ao longo da Estrada de Ferro de Bragança e plantaram arroz, milho, mandioca, feijão, macaxeira, batata doce, jerimum, hortaliças e frutas diversas, mesmo enfrentando os ataques do “chupão”, da formiga-de-fogo e da saúva. O arroz produzido era beneficiado na usina que o governo tinha instalado no Posto de Experimentação Agropecuária da Fazendinha.
As sementes eram distribuídas gratuitamente aos agricultores, pela Divisão de Produção e Pesquisa, e o governo comprava toda a safra.
Associando essa dinâmica crescente ao idealismo de um jovem estudante, nos deparamos com um testemunho verdadeiro e sincero do amigo José Dias Façanha, amapaense de boa cepa e que por muitos anos foi nosso vizinho, no centro da capital amapaense.
Ele publicou um brilhante artigo na Rede Social, contanto O QUE O FEZ ENGENHEIRO AGRÔNOMO.
JOSÉ DIAS FAÇANHA, formado na Turma de 1967, conta de forma clara, como e quais foram os estímulos que lhe levaram a esse belo curso?
“Olhando para minha vida, desde a infância até o crucial momento de decidir que rumo profissional que deveria seguir, sempre encontro a proximidade da agronomia. Começando pelo curso primário, no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, na minha querida Macapá.
Mais ou menos onde hoje é a piscina Territorial, havia uma horta que era trabalhada pelos alunos da escola, como forma de ajudar também no enriquecimento da merenda escolar. Os alunos eram orientados por professores, sob o acompanhamento de servidores da Divisão de Produção.
Ao tempo que isso acontecia, na casa de meus pais, administrada por uma mulher que fora agricultora na infância e adolescência, a minha querida mãe, dona Diva Façanha, tínhamos os canteiros produzindo maxixe, quiabo, jerimum, couve, tomate, que ela me ensinava a plantar e cuidar, criando também algumas galinhas, patos e porcos, esses sempre preparados para as festas do ano: dia de São José, que coincide com o aniversário dela, Círio de Nazaré e Natal. Não podia dar outra coisa, eu gostava dessas atividades.
Quando meu pai, Lourenço Façanha, foi assumir a Prefeitura do Município de Amapá, conheceu a Escola de Iniciação Agrícola que funcionava nas instalações da Base Aérea de Amapá. Encantou-se com a Escola e, contra a vontade de minha mãe, lá matriculou-me. O regime era de internato, por isso a reação de dona Diva que perderia a companhia de seu pequeno agricultor, à época com 12/13 anos.
Ali tive o primeiro contato com aquela figura distante que era o Engenheiro Agrônomo. Também naquela base aérea funcionavam as instalações do Escritório do Ministério da Agricultura, no município de Amapá. Os profissionais daquele órgão compunham o quadro de professores da Escola.
A partir daí, até me decidir que rumo tomar, havia sempre Agrônomos, Veterinários e Técnicos Agrícolas em minha vida. Quase todos os trabalhos nos quais tive envolvido, em menor ou maior grau, eles estavam na orientação.
Foi assim no curso ginasial, de volta a Macapá, enfrentando dificuldades familiares que me levaram ao trabalho antes dos 14 anos. O Governo do então Território do Amapá mantinha um programa de bolsa de estudos, mediante o exercício de estágios. E para onde eu fui? Para o Serviço de Arborização da Cidade, ligado à Divisão de Produção, cuja atividade principal era plantar mangueiras na cidade de Macapá, cavando buracos que receberiam as mudas e adubos. A atividade ficou conhecida como TURMA DO BURACO.
Na Divisão de Produção convivi sob comando dos ilustres Engenheiros Agrônomos Olímpio José dos Santos, José Cohen, Rafael de Moura Ribeiro, entre outros, do Médico Veterinário Antônio Vasques e do Técnico Agrícola Aniceto.
Enfim, é uma história simples, mas proveitosa.”
Com informações de Nilson Montoril
Fonte: Facebook

Um comentário:

  1. Caro João Lázaro, só hoje vou agradecer o registro de minha crônica no teu blog. Na realidade, o destaque dado à TURMA DO BURACO é pertinente, pois, ao contrário do que se possa pensar, não era uma forma de se manter ocupados os moleques em idade escolar. Era parte do plano de governo, cujos serviços foram vinculados ao SERVIÇO DE ARBORIZAÇÃO DA CIDADE, da Divisão de Produção. Os pagamentos aos bolsistas eram feitos pelo Governo do Território, por quase todo o tempo de vida do serviço. Somente nos últimos anos, sem precisar quais, a PMM foi a fonte pagadora.

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