segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

MEMÓRIA DA CULTURA AMAPAENSE – A MARABAIXEIRA JOSEFA PEREIRA LAU PICANÇO

Dona Josefa, nossa homenageada!

Josefa Pereira Lau - um ícone da cultura negra do Amapá - a marabaixeira, conhecida carinhosamente como Zezinha, nasceu numa segunda-feira em 19 de março de 1928, na localidade de Mazagão Velho/AP, filha de Benedito Lau e Raimunda Lemos. Ele filho legítimo da Vila do Mazagão Velho e ela filha legitima da Vila do Maruanum. Além da Josefa, o casal teve mais seis filhos. Por ter nascido num dia de S. José, ficou conhecida como tia Zezinha. Desde pequena Josefa se envolvia nas atividades realizadas na comunidade principalmente relacionadas à cultura de Mazagão Velho, local onde nasceu.

Foto: Santana do Amapá (reprodução)

A dança do Marabaixo é a manifestação cultural mais popular da localidade. Tia Zezinha tinha gratas lembranças de sua infância, pois aprendeu muito com seus pais e avós e sempre foi uma criança amada e curiosa por viver no meio da dança. O marabaixo é uma dança movida pela emoção, fé e herança cultural de um povo. Dona Josefa dizia que sentia orgulho da família que gerou. Sua infância e adolescência se deram na redondeza de sua terra natal, participando das atividades religiosas tradicionais do município histórico. 

Viveu em Mazagão Velho até casar-se, aos 16 anos, com Mariano Aleluia Picanço, em 1945, quando passou a se chamar Josefa Pereira Lau Picanço e se mudou para a Comunidade de Igarapé do Lago, distante 87 quilômetros da capital, Macapá. Dona Josefa Pereira Lau Picanço gerou apenas um filho, mas teve a oportunidade de criar muitos outros e cuidar de netos; para eles ela ensinou a cultura que aprendera desde criança. Dona Josefa começou a trabalhar desde cedo, quando cortava e ajudava na coleta da borracha, cultivava castanha de murumuru e realizava outras atividades na roça. Além de incentivadora da cultura afrodescendente, Dona Josefa era cantadeira dos ladrões de Marabaixo, contadora de histórias premiada e reconhecida pelo Ministério da Cultura como Mestra de Cultura Popular. Integrou a Comissão de Foliões de N.S. da Piedade de Igarapé do Lago onde exerceu por muitos anos o cargo de guardiã da santa junto com sua família. Foi importante também sua contribuição para a produção de vários sambas-enredo de diversas escolas de samba da capital amapaense, baseados no folclore e práticas culturais. 

Fez parte da Ala das Baianas da Piratas da Batucada. Tia Zezinha foi ainda parteira; fazia questão de afirmar que foi um dom que Deus lhe deu de ajudar uma vida a nascer. Viveu no Igarapé do Lago até a morte de seu marido, quando, por questões de logística foi para Macapá residir na casa da sogra, na Avenida Antônio Coelho de Carvalho, sem deixar de lado a sua querida Vila do Igarapé do Lago e Mazagão Velho. Em Macapá no canto do estádio Glycério Marques e em frente à sua casa, tia Zezinha vendia comidas típicas para ajudar nas despesas da casa.  Dona Josefa Pereira Laú Picanço, não só foi apreciadora da Cultura amapaense, foi detentora de saberes ancestrais. Poucas pessoas conheciam melhor do que ela sobre a origem das festas religiosas da Vila do Mazagão Velho, suas tradições e suas origens. Foi eximia dançadeira do marabixo, sairé e batuque. Teve brilhante participação nas festas do Divino Espírito Santo na Vila de Mazagão Velho e de São Gonçalo. Dona Josefa também fundou o Grupo da Terceira Idade da Vila do Mazagão Velho e foi atuante membro da Escola de Samba Piratas da Batucada, além de brincante das quadrilhas juninas.  Dona Josefa Pereira Lau Picanço, faleceu no dia 5 de abril de 2020, aos 92 anos, vítima de um aneurisma cerebral. Seu corpo está sepultado na Vila do Igarapé do Lago.  

A inesquecível Tia Zezinha, nossa biografada de hoje, é reverenciada pelo Museu Afro-Amazônico "Josefa Pereira Lau", localizado à Av. Dr. Silas Salgado, 3586, bairro Santa Rita, em Macapá, Capital do Amapá

Fontes consultadas: Pe. Paulo Roberto Mathias de Souza e Tribuna Amapaense

Fotos: Acervo do Museu Afro-Amazônico

                                                                            (06/02/2024 - Atualizado às 13h59)

9 comentários:

  1. Que resgate memorável. A família Lau é uma referência em Mazagão Velho. Tia Zefinha era a maestrina. Na linguagem popular era a dona da bola. Jogava em todas as posições. Batia o escanteio, cabeceava e agarrava a bola. Merecida e nela homenagem. Parabéns, Amapá por existir João Lázaro neste Estado.

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  2. Édi Prado Ribeiro. Esqueci de assinar

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  3. Que homenagem maravilhosa!! Minha família LAU agradece !!! Nossa Tia Zezinha é uma referência importante para nossa família e para a Cultura do Amapá!!! Viva Tia Zezinha!!

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  4. Obrigada edy minha tia zezinha era a sabedora de cultura .mestra zezinha..

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  5. Inez lau .
    Parabéns pela linda biografia tudo relatado ainda é apenas a metade da história da minha mãe.
    Parabéns sempre ao padre Paulo pela iniciativa de fundar o museu afro amazônico josefa Pereira lau .
    Muitas história sobre ela tem guardada
    Deixou seu lindo legado

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  6. Tia zezinha era toda animada cheia de historias animadas, sempre zelou pela cultura do Mazagão,ralhava com os meninos que jogavam bola na quadra e ficava triste quando eles não apareciam pra ela brigar.

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  7. Era muito bom sentar numa tarde, e ouvir suas histórias
    Ir passa as férias tanto no Igarapé do lago quanto em Mazagão velho
    Tia Zezinha ícone…

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  8. A família Lau, sente-se honrada com a merecida a homenagem à bibliografia de Josefa Pereira Lau, “ Tia Zezinha”, mulher de grande conhecimento, deixando um legado memorável à cultura amapaense.

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